A vosso pedido, e para colmatar utilização caótica do quaro, aqui vai em versão digital uma súmula da aula sobre Toury. Podem aproveitar agora para expor as vossas dúvidas e acréscimos na caixa de comentários.
Cultura, de uma perspectiva semiótica, considerada como a correlação funcional de diferentes sistemas de signos tornando significativa a comunicação numa comunidade (= sistema)
O que é uma entidade semiótica?
Uma mensagem / texto / conjunto de signos que partilha do mesmo código e de um conjunto de pressuposições comuns entre emissor e receptor.
O que é um sistema semiótico?
Actividade humana que regula e é regulada pelo funcionamento de uma ou vária(s) entidade(s) semiótica(s)
O que distingue o processo de tradução enquanto actividade semiótica – o facto de a transferência entre entidades semióticas ser inter ou trans-sistémica (cross-systemic)
Tradução
- processo (traduzir): transformação de uma unidade semiótica noutra entidade que pertence a outro sub-sistema (código) ou sistema
- potencial (traduzibilidade): grau de intercâmbio entre duas entidades semióticas mediante determinadas condições/ condicionantes de equivalência
- produto (tradução): entidade que só pertence a um sistema semiótico, o de chegada, embora pressuponha outra entidade noutro sistema e uma equivalência factual entre elas
Traduzir
processo de 4 fases: (p. 1129)
- decomposição em características (análise do TP)
- selecção das caracerísticas a ser traduzidas
- transferência das características relevantes entre fronteiras semióticas
- recomposição da entidade resultante, atribuindo-lhe o mesmo ou outro conjunto de características relevantes
p. 1132 – traduzir como processo irreversível
critérios que determinam tipos de processo des tradução:
- natureza do destinatário que se torna emissor (TA ou TH)
- meio ou canal de comunicação (tradução, interpretação, legendagem, dobragem, consecutiva, simultânea)
- tipos de mensagem (literária, técnica, bíblica, folclorista, jornalística, científica)
- relações entre TP e TC (trad. literal, documental, parafrástica, interpretativa, parcial, instrumental...)
Traduzibilidade (condicionantes ou leis da traduzibilidade, p. 1130
- possibilidade de reestruturar as características da entidade inicial depende da posição relativa entre línguas e culturas, mas também do que se considera a “core invariable” a ser mantida no processo de transferência
- diferença de canais reduz traduzibilidade inicial
- universais culturais dependentes de traduzibilidade: intromissões modelares da LP na LC, fazendo variar as condições de traduzibilidade inicial; traduzir de um sistema mais desenvolvido para outro mais primitivo envolve redução ou simplificação; traduzir de um primitivo para um mais desenvolvido envolve complexificação
p. 1138-1139, leis da traduzibilidade. É alta;
- entre pares de línguas próximos / da mesma família
- quando existe contacto entre os pares de línguas
- quando existe paralelismo de evolução cultural
- quanto mais restrito o tipo de informação
- quando existe estruturação e hierarquização semelhante nas duas línguas do par
Tradução
p. 11136 tudo o que é aceite como tradução na perspectiva da CC
logo, envolve pseudo-tradução – textos originais aceites como textos traduzidos pelos seus destinatários
normas que governam a equivalência em tradução: aceitabilidade ou adequação (p. 1138)
Toury apresenta um novo modelo tradutório, no qual, introduz uma extensão de terminologias associadas à semiótica. Este trabalho incide na significação desses mesmos termos semióticos. Para o autor, a perspectiva sócio-cultural que subjaz à acepção “semiótica da cultura” visa o contexto sócio-cultural do TC. A semiótica cultural abrange todas as actividades humanas nos seus intercâmbios, processamentos de informação e cultura, formando-se assim uma correlação funcional entre sistemas de signos, que torna significativa a situação de comunicação numa comunidade. Segundo Toury o aspecto distintivo da tradução enquanto actividade semiótica é o facto de operar entre sistemas, ser inter-sistémica. O autor refere que a utilização de “factos” tradutórios isolados pode não ser suficiente para efectuar uma tradução, tendo que se fazer uso de um estudo interdisciplinar, alargado a toda a experiência humana e a todos os aspectos sociai e culturais subjacentes ao TC e TP, para que seja possível um conhecimento dos signos, obtendo se assim uma melhor tradução.
Para Toury entidade semiótica é a mensagem que se pretende transmitir inserida num sistema semiótico. Toury Caracteriza também sistema semiótico como sendo um sistema de símbolos, como por exemplo: código morse, alfabeto latino, numeração árabe, linguagem binária, Braille, etc.
Considera-se um texto uma tradução quando se transfere o núcleo central de um sistema semiótico, ou seja, a mensagem, para outro sistema semiótico, e este é aceite pela comunidade para o qual é transferido como sendo uma tradução. Pseudo-tradução acontece quando uma obra original é apresentada como tradução.
Para Toury, o processo de tradução é o acto que engloba a miríade de operações realizadas para transferir a entidade de um sistema semiótico para outro, enquanto o produto de tradução é o resultado deste acto, a entidade semiótica aceite como tradução no sistema semiótico de chegada.
Toury refere que a traduzibilidade é parte integrante do processo de tradução. A traduzibilidade pode ser condicionada perante o que se escolhe como invariante na entidade semiótica, e quando existe mudança ou não de canal durante a transmissão da mensagem, e será mais elevada mediante estas cinco condições;
· 1) A traduzibilidade é alta quando um par de linguagens é do mesmo tipo ou família linguística;
· 2) A traduzibilidade é alta quando existiu uma evolução cultural em linhas paralelas, mesmo quando não existiu contacto directo;
· 3) A traduzibilidade é alta quando existe contacto entre duas línguas, mesmo que não sejam do mesmo tipo;
· 4) A traduzibilidade é alta quando existe apenas um tipo de informação a ser traduzida, e diminui com a existência de outros tipos de informação e/ou com o grau de complexidade da informação dentro do texto;
· 5) A traduzibilidade é alta quando a diferenciação sistémica intrínseca (dialectal, registo, estilística) produz valores semelhantes.
Os universais culturais recorrentes das condições de traduzibilidade são; a intromissão modelar, e a simplificação, explicitação ou maior grau de sofisticação decorrentes da posição relativa entre sistemas, ou seja, se o sistema for mais desenvolvido ao passar para outro sistema menos desenvolvido poderá ser compactado, ou até perder informação. Por outro lado, se a mensagem a transmitir partir de um sistema primitivo para um outro complexo, a mensagem tende a ser também mais complexa.
As normas fundamentais que governam a “equivalência” de entidades semióticas na tradução são; a Adequação, quando a tradução estás mais próxima do texto de partida; e a Aceitabilidade quando está mais próxima do texto de chegada.
Expressões presentes no texto que nos suscitaram duvidas; “stylistic comparee”, deduzimos que seja comparações de estilos entre as diversas semióticas; umkodierung, que pensamos que seja descodificar
Telma Lal e João Grilo
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